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Documentário sobre o caso Jyoti Sing expõe as mazelas do Machismo na Índia

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Por Letycia Oliveira

O documentário India´s Daughter (“Filhas da Índia”, disponível no Netflix)  é  uma abordagem do caso de estupro coletivo à jovem estudante de medicina Jyoti Sing, que aconteceu em 2012 em Nova Déli, capital da Índia. O crime teve repercussão internacional e foi o estopim para diversos protestos por todo o país, em que o povo revoltado repudiou a prática deste tipo de violência. Na Índia a cada 20 minutos uma mulher é estuprada, indicam dados oficiais.

A jovem Jyoti Sing virou bandeira da luta contra o estupro no país e no mundo. Ela era uma garota sonhadora, que nasceu em uma família humilde. Seus pais, diferente de muitos outros, a receberam como uma dádiva. Na cultura indiana, quando nasce uma menina, geralmente as pessoas acham ruim, não comemoram, e, no caso dela foi diferente: os país enxergavam nela uma grande esperança de dias melhores e investiram todo o dinheiro que seria aplicado em seu casamento para que estudasse no curso de medicina.

Ela trabalhava duro à noite, o que não era recomendado para garotas, pois na cultura deles mulheres não podem sair sozinhas depois das 18h30 sem estarem acompanhadas por parentes próximos. O crime ocorreu quando Jyoti voltava do cinema com um amigo. Ao pegarem o ônibus eles foram espancados e ela, ao ser levada para o fundo do coletivo, foi brutalmente estuprada por seis homens. O ato foi tão bárbaro que eles chegaram a retirar o intestino dela com um ferro pelo canal vaginal e depois a jogaram junto com seu amigo em um matagal à beira de uma avenida movimentada. Ela ainda foi achada com vida e resistiu por 13 dias internada e relatou a agressão ocorrida. O motorista do ônibus era irmão de um dos estupradores e foi cúmplice do ocorrido. Entre os assassinos havia um menor de idade. Todos foram presos e condenados.O documentário mostra a visão de familiares, advogados de defesa, do motorista envolvido no caso, de policiais, de amigos e de organizações de defesa dos direitos das mulheres.

A Índia é um país onde a cultura é extremamente machista. As mulheres, na maioria das vezes, são vistas como objetos, o que faz com que os índices de estupros sejam altíssimos.

O depoimento de Mukesh, de 28 anos, motorista do ônibus, que não é um estuprador, mas foi conivente com o acontecido, é chocante e demonstra claramente a mentalidade dos homens indianos. “Uma mulher decente não anda por aí sozinha à noite; a mulher é muito mais responsável pelo estupro que o homem. Homens e mulheres não são iguais, a mulher deve fazer o serviço de casa e não ficar por aí em boates e bares à noite, fazendo coisas erradas e usando roupas erradas; só 20% das mulheres são boas”, diz. Ele foi condenado à morte por enforcamento pelo crime de estupro, sexo anômalo e assassinato.

O advogado de defesa de um dos assassinos, AP Singh, defende a mesma visão: “se minha filha ou irmã se envolvesse em atividades pré-conjugais e se desgraçasse ou se permitisse perder o rosto ou as feições por fazer tais coisas eu levaria essa irmã ou filha ao meu sítio e diante da família jogaria gasolina nela e a deixaria em chamas”, declarou a uma TV local. Na Índia é comum também mulheres terem os rostos desfigurados por ataques com ácido sulfúrico.

O caso de Jyoti Sing foi um exemplo para o mundo e motivou milhares de pessoas a lutarem pelo fim da violência contra a mulher. Na Índia, o machismo faz centenas  de vítimas a todo o momento, e estas, muitas vezes, ainda são culpabilizadas e se sentem humilhadas perante a sociedade quando sofrem agressões. No Brasil não é muito diferente:  a última pesquisa DataSenado sobre violência doméstica e familiar(2015), afirma que  uma em cada cinco mulheres já foi espancada pelo marido, companheiro, namorado ou ex e 100% das brasileiras conhecem aLei Maria da Penha, que, segundo o Ipea,fez diminuir em 10% a taxa de homicídios dessa natureza no Brasil. Com relação à violência sexual o Ipea levou a campo um questionário sobre vitimização, no âmbito do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), com algumas questões sobre violência sexual. A partir das respostas, estimou-se que a cada ano no Brasil 0,26% da população sofre violência sexual, o que indica que haja anualmente 527 mil tentativas ou casos de estupro consumados no país, dos quais somente 10% são reportados à polícia. Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem para a violência.

A triste história de Jyoti Sing não foi um caso isolado. Na Índia os crimes contra as mulheres são muito mais comuns pela cultura machista que é disseminada no dia a dia. Os homens que a estupraram foram pessoas criadas em situação de extrema pobreza, sem nenhum tipo de oportunidade e acesso à educação; cresceram e conviveram a vida toda em um meio machista, onde viam o tempo inteiro mulheres serem maltratadas, agredidas e consideradas objetos. Por isso, o machismo não é um problema individual e sim social. É preciso uma mudança de mentalidade e isso só pode ser construído a partir da educação. Uma dica de cinema para refletir sobre o os direitos das mulheres na sociedade. Assistam!


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