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Quem não tem coração de repórter nunca será Jornalista!

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mulheres de pedrinhas

De Francisco Junior

Especial para o Blog Liberdade para as Rosas

Entre os requisitos para o exercício do jornalismo estão a capacidade de contestação do status quo, o frequente exercício da indignação e a constante inquietude. Nós jornalistas, somos acima de tudo, contadores de histórias, e portanto,  a reportagem, palavra derivada do verbo “reportar” é a essência da nossa práxis.

O verbo “reportar” por sua vez deriva do latin “reportare” que entre outros significados inclui os vocábulos, aludir, referir-se a algo ou alguma coisa. Sem atentar para este detalhe deveras fundamental e diria até crucial, é impossível fazer alguma coisa que pelo menos se aproxime do jornalismo. Instigar, perguntar, questionar, duvidar, se interessar e acima de tudo humanizar-se no sentido mais amplo do termo no exercício cotidiano deste ofício. Todas estas atitudes pulsam e cabem dentro do coração de repórter.

 É com grata surpresa que a colega jornalista, Letycia Oliveira traz para a blogosfera um espaço de debate das questões relacionadas às bandeiras do feminismo, o tema da  seletividade penal no texto, que inaugurou o blog idealizado por ela. O texto adotando um tom opinativo toca neste assunto, citado com freqüência na esfera da sociologia jurídica, a partir da história de uma detenta do presídio feminino de São Luís. A personagem que referencia a postagem é  negra, mulher e mãe, cujo filho nasceu no cárcere.

 O mérito da postagem é apresentar caráter opinativo, afinal de contas, jornalistas têm lado, o retrato de exclusão social vivido pelas mulheres pobres e  negras, que se torna mais rigorosa justamente na esfera penal  Quando comparada à situação de mulheres mais bem aquinhoadas e brancas, é possível perceber o fosso que separa a via –crucis, enfrentada  pela personagem citada no texto, do tratamento assegurado por exemplo a uma prefeita que ganhou destaque no noticiário por conta da acusação de desvio de verbas públicas.

 Letycia Oliveira mostrou que dentro de si  pulsa um coração de repórter  quando teve a ousadia de  destacar a partir de uma pauta jornalística, na qual tal assunto não era necessariamente o tema a ser enfocado, o contexto de extrema de desigualdade social presente no cotidiano do sistema penal brasileiro.

 Na postagem é acentuada a total ausência de perspectiva e esperança de uma presidiária negra e mulher com ênfase no modo como a  estrutura punitiva do Estado brasileiro trata as pessoas conforme o status” social e desta forma, quem tem menos” bala na agulha” padece sem piedade nas masmorras do país.

 Ela foi além do factual previsto na pauta e reportou uma situação que precisa sim ser trazida para cima do tapete, discutida e  polemizada. Por conta desta atitude, típica de quem tem “coração de repórter “, a postagem assinada por ela, concretiza um dos requisitos primordiais do jornalismo: dar visibilidade àquilo, que embora esteja diante dos nossos olhos, é ignorado cotidianamente.

 Atitudes como esta  qualificam o conteúdo da  blogosfera  e merecem ser destacadas, pois renovam as esperanças nos valores nobres do jornalismo. Assim como a colega autora desta postagem,  muitos jornalistas ainda mantém acesa a chama da inquietude.

Isto faz com que apesar de tudo, continuemos acreditando e defendendo o jornalismo como atividade essencial para contribuir ,  dentro daquilo que lhe cabe e no que é possível fazer,  para a construção de uma sociedade mais justa.  Afinal, como diria o poeta Mário Quintana:  “Se as coisas são inatingíveis… ora! Não é motivo para não querê-las… Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!


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