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Sobre o direito de abortar

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aborto legal pela Vida das mulheres

Depoimento de uma Rosa

Tenho 28 anos, engravidei aos  20 e desde então luto todos os dias para ter uma vida boa e dar um futuro legal pra minha filha, quando engravidei era uma pessoa livre e independente , mas não sabia o que queria, namorava um cara da minha idade, há um ano , sem muitas perspectivas. Quando descobri que estava grávida tinha acabado de entender que ele não era o cara mais adequado para  ter uma responsabilidade como esta, não contei nada pra ninguém, e depois de algum tempo assumi a gestação sozinha, tendo o apoio somente da minha mãe, que também é mãe independente.Todos ficaram contra a decisão. Como uma garota brilhante decide acabar o futuro sendo mãe?Cheia de sonhos, me vi perdida e desamparada , mas senti uma energia tão forte , uma felicidade que brotava de dentro de mim por estar carregando um ser vivo em meu ventre, não sabia o que me esperava. Estava desempregada e logo comecei a trabalhar vendendo cosméticos, passava o dia inteiro pegando ônibus de um lado para outro, indo na casa de amigas, vendendo de porta em porta, uma mulher grávida não arruma emprego em lugar nenhum!

A minha gravidez foi triste e depressiva , o pai da criança era e continua sendo um  zero a esquerda, nunca me ajudou em nada e logo percebi o total despreparo dele para ser pai , pediu que eu abortasse, mas não tinha condições para isso, nunca iria me submeter a tomar comprimidos de Cytotec ou a fazer um aborto nessas clínicas clandestinas e correr o risco de perder minha vida. Aos 3 meses de gestação a nossa reação que já era muito abusiva , começou a ficar insustentável  e ele chegou a me dar um soco rosto no meio da rua  com ciúmes, a dor que senti no momento não foi na face e sim na barriga, foi como se ele tivesse batido diretamente em meu ventre,  nunca entendi como não perdi a criança naquele momento, não o denunciei e também não falei pra minha família , a nossa relação ainda continuou, as pessoas da família dele ficaram sabendo e o pai dele  quem me acudiu no dia da agressão, no entanto , não fizeram muita coisa, logo depois voltei com ele, os relacionamentos abusivos são assim, você sabe que está sendo maltratada mas não sabe como sair dele, o homem consegue te manipular de tal forma que parece que eles são essenciais na sua vida.

 Passei a gravidez inteira depressiva e quando minha filha finalmente nasceu foi como se um peso muito grande estivesse saído de dentro de mim, me sentia feliz por ela estar ali e também eufórica , já saí do hospital meio surtada, cheguei em casa e queria fazer tudo que não tinha feito nos 9 meses de gestação, parecia que eu estava renascendo, começou ai o meu problema, estava tendo uma depressão pós parto e ninguém se atentou pra isso. O pai de criança tratou de se mudar pra minha casa e começou a me enlouquecer, eu não suportava mais ele , que não em ajudava em nada e sim atrapalhava e me dava mais trabalho num momento em que eu não sabia o que fazer com essa criança que acabara de nascer, resultado, não conseguia dormir , nem comer direito, muito menos fazer necessidades básicas como ir ao banheiro, a criança tomava todo o meu tempo e não tinha ajuda de ninguém, surtei e fui parar numa clinica psiquiátrica , tomava remédios fortíssimos pra dormir e não conseguia . Foram dias terríveis , meus seios ficaram cheios de leite e eu chorava pois não podia amamentar por que estava internada tomando remédios fortíssimos,  sofri muito com a falta da minha filha , achava que iam tirá-la de mim… Voltei pra casa e ainda tive que ir internada mais uma vez pois não queria tomar os remédios,  foram tempos muito difíceis.

Durante os anos seguintes desenvolvi o transtorno bipolar, por falta de um tratamento adequado, até hoje , 7 anos depois,  faço tratamento, e já tive muitas crises. Pessoalmente não gosto da idéia do aborto, mas sou a favor que a mulher tenha o direito de escolher, agora deve ser difícil se submeter a esses abortos clandestinos que matam tantas mulheres Brasil a fora todos os dias. Não sei como seria a vida sem minha filha,ela é minha fonte de luz! Hoje tenho uma emprego fixo, me formei, pode se dizer que venci, o pai dela nunca  me deu nenhuma assistência, sofro com preconceito de ser uma mãe independente. Só de ter nascido mulher a gente já sofre, não sei como seria se tivesse escolhido o aborto , talvez tivesse tido mais chances na vida, seria mais bem sucedida,  mas escolhi sozinha trazer ao mundo um ser , que assim como eu é mulher e vou ter que ensinar  a conduzir e lutar nesse nosso mundo que ainda é tão machista .  Busco todos os dias ser uma boa mãe, que ao meu ver  é uma tarefa muito difícil, entretanto para além disso tudo sou mulher , feminista e o que  mais quero é que nós, um dia, possamos decidir o que é melhor pro nosso corpo sem precisar correr tantos riscos.


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